Nina Christo Bianchetti, de 4 anos, está entre os mais jovens mineiros a integrar o “Mensa Internacional”, um “clube” para pessoas com alto QI. Moradora de Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte, a menina que, aos dois anos, estava completamente alfabetizada, já leu mais de 100 livros. As informações são do Estado de Minas.
Segundo a tradutora e escritora Carolina Christo, desde os primeiros anos ela e o marido notavam o interesse da filha pelo conhecimento. “Por trabalhar muitos anos no mercado editorial, sempre tivemos muitos livros espalhados pela casa, principalmente infantis, e a Nina sempre se interessou por eles. Temos vídeos dela sentada no nosso colo, com 5 meses, super concentrada na história do início ao fim do livro. Acredito que o fato dela ter isso à disposição contribuiu para despertar o interesse dela”, afirmou.
Foi nesses momentos de leitura com os pais que a garotinha começou a ligar o som e a grafia de palavras menores e, com menos de três anos, ela já estava completamente alfabetizada. “Com 1 ano e 10 meses, a Nina conseguiu decodificar algumas palavras menores, como pia e tio. Acredito que, em algum momento, ela passou a criar uma conexão entre o que ela escutava e as palavras. Depois, passou a fazer rabiscos das letras nos papéis que tinha para brincar. Aos dois anos, ela já estava alfabetizada”, disse a mãe.
Educação que auxilia no desenvolvimentismo
Além dos livros, a escritora conta que deixou sempre à disposição brinquedos educativos e, até os três anos, adotou a política ‘zero telas’. “Eu sou entusiasta do Método Montessori, então tenho vários quebra-cabeças de madeira e brinquedos que estimulam o raciocínio. Depois, entendemos que a superdotação é 80% relacionada à genética e 20% ao ambiente que a criança vive. Por isso, acredito que essas atividades tenha influenciado um pouco.”
Já os dispositivos eletrônicos ocupam um espaço reduzido no cotidiano de Nina, cerca de 30 minutos por dia. “Até os três anos, a minha filha não tinha acesso às telas. A partir desta idade, comecei com vídeos de leitura em inglês, já que os livros são muito caros, e plataformas com atividades de matemática. Mas, é no máximo 30 minutos por dia e eu estou sempre acompanhando”, contou Carolina.
Para a mãe, essa medida
auxilia na concentração, no foco e no interesse da menina pelas coisas do mundo. “Antes da pandemia, saímos de BH para morar em um sítio em Nova Lima. Por causa disso, a Nina passa o dia todo brincando, correndo e procurando lagarta e minhoca no quintal. Ela fica querendo saber qual é o tipo de lagarta e como ocorre o processo de transformação para borboleta”, explicou.
O Brasil tem cerca de 5% da população com
superdotação/altas habilidades, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Ao aplicar esse número à população escolar, teríamos cerca de 2,4 milhões de crianças com a condição. Porém, o Diagnóstico Unesco/MEC, de 2017, afirma que apenas 10.256 alunos com tais características recebendo o atendimento adequado.
“Depois da Nina, ficamos mais antenados com essa questão da superdotação. Meu marido fez e descobriu que também é. Ele chegou repetir de ano três vezes, pois não tinha paciência para ouvir o que ele já sabia há anos. Na época, os pais dele e os professores não tinham essa informação para entender o que estava acontecendo”. Carolina Cristo
Mensa como um meio de socialização
A iniciativa para inscrever a garotinha na organização foi pensando na sua socialização. Com o Mensa, Nina, além de conhecer crianças com os mesmos interesses, poderá participar de aulas de matemática, robótica, xadrez e inglês.
“Eu fui conhecendo algumas mães e percebi que crianças com superdotação, muitas vezes, têm
dificuldades de sociabilidade, pois não se identificam com os pares da mesma idade. Geralmente, nas escolas, essas crianças são mantidas com as outras da mesma faixa etária ou, então, adianta, no máximo, dois anos. Isso não supre o GAP social, porque os interesses não batem. Pensamos no Mensa para ela poder conhecer novas crianças e receber estímulos que não conseguimos suprir”, ressaltou Carolina.
Conforme a tradutora, acompanhar o ritmo da menina às vezes é complicado, pois ela demanda alguns esforços. “Como eu não consigo pagar todas as aulas que ela gostaria de fazer, como inglês, robótica e programação, eu tento fazer algumas coisas aqui em casa. Por isso, com o programa Jovens Brilhantes do Mensa, ela poderá ter acesso a vários conhecimentos. Além de ser uma organização conhecida internacionalmente, o que poderá oferecer oportunidades para ela no futuro.”
Como integrante do Mensa, Nina participará de um clube de xadrez, além de assistir aulas de um treinamento para as olimpíadas de matemática.
Carolina também ressalta a necessidade das escolas ‘abraçarem’ as crianças com superdotação. “Eu percebo que as instituições de ensino daqui não têm muito interesse em manter essas crianças, porque estas exigem atividades diferentes ou precisam acelerar de ano. Existe a necessidade de pensar um plano de ensino individualizado e as escolas não conseguem e não se informam sobre essa condição para fazer isso. Tivemos a sorte de achar uma que seja tão legal com a Nina.”
Sobre o Mensa
A associação sem fins lucrativos reúne pessoas de alto QI no mundo. Criada na Inglaterra, em 1946, a Mensa admite candidatos que tenham o QI acima de 98% comparado a população mundial. A organização atua em mais de 100 países, sendo que, no Brasil, ela está presente há mais de 20 anos.
O teste, anteriormente, era aplicado para pessoas maiores de 17 anos, mas, em maio deste ano, o teste começou a ser feito por pessoas a partir de dois anos.
Além de Nina, outros 11 mineiros, entre 2 e 17 anos, fazem parte do Mensa, sendo que três deles são residentes da Grande BH. No Brasil, ao todo, fazem parte do grupo 174 menores.
Foto: Arquivo Pessoal