Editorial - Opinião sem medo!
Lata d’água na cabeça
Lata d’água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Lata d’água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Maria lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida do asfalto
Que acaba onde o morro principia
A labuta da Maria acontece todo dia pelos morros da capital do calçado, sendo mais corretos, ela acontecia todo dia, afinal quem disse que no pé do morro tem água para encher a lata d’água.
Não tem água para encher a lata d’água, não tem água para encher a caixa d’água, em muitos lugares não tem água pra beber, para banhar, para lavar a rouba de quem vai trabalhar.
Se já não tem água na torneira sobra dor de cabeça, sobra importuno, desconforto, falta água, falta dignidade, sobra promessa e ações desesperadas daqueles que são os responsáveis pela qualidade de vida.
Agora a situação foi decretada como estado de emergência, pena que tal medida não foi tomada há mais tempo, pena que a despreocupação, para não chamar de omissão foi tomada de forma tardia.
Talvez se desde 2017, quando assumiu a gestão o prefeito de Nova Serrana tivesse tomado uma medida mais incisiva assim ao invés de ouvir promessas, ouvir um monte de justificativas torpes jogadas ao vento tudo já estaria efetivamente diferente.
Vejamos, segundo afirmado pelo representante da empresa a obra da ETA está atrasada a praticamente dois anos pelo fato de que problemas na elaboração e realização da obra foram encontrados.
Falta de documentação, liberação e quaisquer outros problemas de caráter técnico e administrativo podem até justificar, mas não convencem as Marias, que nem mais podem subir os morros porque na verdade falta água todo dia.
Estranho se pensar que medidas administrativas estão sendo estudadas a partir de agora, como prevê o decreto, estranho porque afinal o projeto de lei que retira a isenção tributária foi vetado, e, se o problema é realmente crônico como se percebe, a ponte de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito, porque somente agora, porque no terceiro ano, porque procrastinar por tanto tempo algo que deveria já estar em mãos.
Sendo sinceros, não tem político na cidade com peito para tirar a Copasa. Parece que nenhuma autoridade consegue fazer com que as multas da empresa sejam pagas e com que o cidadão, ou melhor as Marias que possam com dignidade, carregar suas latas d’água, para lavar as roupas e garantir seu ganha pão.
A Copasa sambou e fez o que quis nos últimos anos, e quando a coisa apertou jogou algumas migalhas aos cães que ficaram satisfeitos com as respostas vagas e sem garantias que são determinadas pela empresa.
O esgoto é cobrado, mas ele é colhido e tratado? Bom a CPI provou que não, um contrato tão bem construído, não deixa pontas, deixa na verdade as tubulações cheias de vento e os bolsos dos que usam colarinho branco cheio de dinheiro.
Em meio à crise quando um processo parece que vai fazer com que a empresa seja pressionada, conflitos políticos fazem com que a pauta seja vetada. Há quem diga que o pensamento é na economia da população, mas será que um povo que já paga tanto por vento em suas torneiras não se importaria em pagar um valor adequado por um serviço eficiente?
Uma coisa é certa, podemos atestar e aplaudir o fato de que finalmente algo foi efetivamente feito. Os vereadores cobram, indicaram a solicitação de um TAC, o prefeito decretou a emergência que se arrasta há anos e agora que por parte dos representantes as coisas não fiquem também somente no campo da palavras e atitudes para boi dormir.
As Marias querem muito pouco, querem água, querem dignidade, querem condição para se banhar, lavar, beber e comer. As Marias não querem diversão e arte, elas querem apenas água para terem o mínimo de qualidade de vida, qualidade essa que foi a grande promessa de campanha para o povo trabalhador de Nova Serrana, que já não pode nem mais soar, porque em casa não tem mais água no chuveiro para se banhar.