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O verdadeiro Reinado

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Inúmeras são as festas religiosas ricas em cores, movimentos e ritmos realizadas aqui nas Gerais.

Malgrado as incompreensões e perseguições que lhes são muitas vezes movidas, até mesmo por autoridades eclesiais, elas persistem. Assim é que em vários pontos do estado são encontradas festividades como as folias de reis e principalmente, as conhecidas por congadas, reisados ou reinados.

A origem dessa secular tradição é datada do período colonial, à época dos escravocratas. Ludibriado em sua boa fé, como muitos outros, um rei africano, com dezenas dos membros da tribo, atravessou o Atlântico, nos sombrios porões de um navio negreiro, e foi com eles trazido para ser escravo em Ouro Preto, então capital da província.

Rei em sua terra, jamais se conformou com o cativeiro. Aproveitando as raras horas livres, trabalhou, sem descanso, a fim de obter os meios necessários para comprar cartas de alforria. Libertou primeiro seu filho. Continuaram a laboração juntos, pois o intento era estender a soltura à todos os componentes da tribo.

Com a cooperação geral, conseguiram. Reza a tradição que negras punham escondido nas carapinhas o ouro que conseguiam e iam lavar as cabeças nas pias de água benta das igrejas da cidade, a fim de que o metal se depositasse no fundo.

Negros previamente avisados iam depois, discretamente, retirá-lo. Os esforços do grupo foram compensados. O rei negro, que se convertera ao catolicismo, foi batizado com o nome de Francisco. Daí a alcunha de Chico-Rei. Tornou-se devoto de Nossa Senhora do Rosário e, como gratidão pela GRAÇA alcançada, organizou as festas do Reinado. Voltou, então, a imperar entre os seus, também convertidos, mas com raízes hereditárias demasiadamente fortes, prendendo-os aos ritos nativos da mãe África.

Assim nasciam as festividades de um povo, que se fizera livre, ante tantas adversidades, agradecidos, veneravam a Senhora do Rosário, com seus cantos, suas danças, seus ritos, sua cultura e suas crenças, nem sempre respeitadas e devidamente valorizadas.

“E ainda nos tempos atuais, inúmeras são as localidades, como a “Nossa Serrana”, em que a riqueza religiosa e cultural das festas de Reinado, atraem uma multidão, que cultuam devotamente seus Santos ou deslumbrados que estão pela beleza e alegria dessas gentes congadeiras.

É certo que a essência do Reinado, aqui pelos lados da Capital Nacional do Calçado Esportivo, foi por anos vilipendiada; interesses políticos-eleitoreiros deram à festa uma conotação mercantilista, donde shows e barraquinhas “roubavam” o protagonismo, ao ponto de vermos a “festa” ser transferida do entorno da capela de Nossa Senhora do Rosário, região central da cidade, para o centro de convenções, numa clara demonstração de que, por vezes, para o poder público, a fé dessas gentes é relegada, predominando a observância de outros proveitos.

Aqui vale a ressalva de que é absolutamente compreensível o querer de alguns munícipes, desejosos das atrações artísticas de renome e do intenso comércio, tão atrativos aos nossos anseios, mas é preciso ressaltar que numa festa católica, não é momento oportuno para tal, ademais a comercialização de bebidas alcoólicas está terminantemente proibida em todas as festas religiosas, conforme decreto do Bispado; fica a observação, de que poderíamos organizar a Festa do Calçado, com shows, barraquinhas e afins, conforme a aspiração de tantos, e por conseguinte, preservar o Reinado, em respeito aos católicos, num aprazível momento de veneração.

Enfim, todo apreço a esse povo congadeiro, um viva à sua fé, que eles tenham nossa estima e compreensão, e que promovam uma maravilhosa festa, nos moldes tradicionais, como a irmandade sempre almejou; salve SÃO BENEDITO, SANTA IFIGÊNIA E A SENHORA DO ROSÁRIO.

Abençoada semana, Graça e Paz.

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