Tamanduá-bandeira em Lagoa Santa. Aranhas gigantes em Belo Horizonte. Porco-espinho em Santa Luzia. Onça em Lavras. O aumento de ocorrências de animais silvestres e de até mesmo de peçonhentos encontrados nos últimos dias em residências na capital mineira, na região metropolitana e no interior do estado pode ser um sinal de adensamento urbano, mas especialistas apontam que, mesmo sendo um dos indícios de desequilíbrio ambiental, os fenômenos estariam potencialmente ligados também ao período seco. Nessa época, o alimento para todas as espécies fica mais escasso.
No início de maio, o caso das aranhas ‘gigantes’ no Buritis, divulgado inicialmente em uma rede social, assustou moradores do Buritis, bairro da Região Oeste de BH e virou até motivo de memes da internet.
“Eu iria embora e deixava elas ficarem com a casa. Passava até a escritura para o nome delas.” “Elas”, no caso, são as aranhas. O comentário é uma reação ao aparecimento de aracnídeos robustos até em apartamentos, como registrado no Facebook. Moradores da localidade relatam que seus prédios têm sido invadidos pelos bichos “do tamanho da mão aberta de um adulto”.
Até mesmo para o mercado imobiliário o caso teve repercussão, como conta Gabriela Lara,36, empresária e corretora da Solimob Netimóveis. “Nos últimos dias, alguns clientes interessados em imóveis no bairro perguntaram se existem aranhas gigantes no local, o que seria até engraçado, se não prejudicasse os negócios”, diz. Na visão dela, o fenômeno não poderia ser atribuído ao crescimento de empreendimentos imobiliários. “O Buritis já freou o crescimento de novas construções. E não podemos desconsiderar que o bairro possui a segunda maior reserva ambiental da cidade, que é o Parque Aggeo Pinho Sobrinho”, ilustra.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que a Gerência de Zoonoses Oeste atendeu um pedido de vistoria no Buritis no dia 6 de maio, em função do aparecimento de uma aranha, mas o animal já não estava no local. “A equipe repassou as orientações e cuidados para evitar o acesso de aranhas e outros animais peçonhentos no imóvel, além de orientações caso ocorra algum acidente”. De acordo com registros, não há notificações recentes na Gerência de Zoonoses de ocorrências com animais peçonhentos nem outras solicitações ou relatos de aparecimentos de aranhas na região.
Lote ‘Revigorado’
Ainda no Buritis, por precaução, moradores da Rua Maria Heilbuth Surette limparam uma área onde há uma obra inacabada de uma construtora que faliu há anos e abandonou o local com montes de entulho e mato alto, o que poderia propiciar o aparecimento de bichos peçonhentos e ainda a proliferação de focos de dengue.
Para Vicente Penido, empresário, morador e um dos incentivadores da ação, a comunidade local só tem a ganhar, uma vez que o espaço estaria abandonado pelo proprietário. “Inicialmente, nós limpamos e fizemos uma quadra de peteca no terreno, mas como o interesse foi grande, abrimos uma outra quadra. Mesmo não sendo todos que apoiam, a maioria gosta e ajuda e dá movimento a um local que, do contrário, estaria acumulando entulhos e outros perigos. Agora, estamos limpando e cuidando do periférico. Vamos manter tudo limpo por aqui”, garante.
Como proceder
» Vistorias relacionadas ao aparecimento de animais peçonhentos (aranhas, escorpiões, lagartas) podem ser solicitadas por meio do Portal de Serviços (www.prefeitura.pbh.gov.br) ou pelo aplicativo APP PBH
» Sendo possível a captura e/ou recolhimento do exemplar (vivo ou morto), cuide-se para evitar acidentes. Coloque em um recipiente com tampa e acione as equipes de zoonoses para o recolhimento
» Em caso de acidente, procure imediatamente assistência médica no Centro de Toxicologia do Hospital João XXIII (Av. Prof. Alfredo Balena, 400)
» Em BH, procure o Waita Instituto de Pesquisa e Conservação (waita.org), pioneiro neste tipo de trabalho
» Fora de BH, acione o Corpo de Bombeiros e/ou Polícia Ambiental
Moradores ‘acolheram’ e ajudaram a salvar
Só nos últimos dias, Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, viu surgirem animais como tamanduá-bandeira, gambá e porco espinho em diferentes pontos. Na casa da família de Claudomiro Rodrigues Costa, 60, mestre de obras, e que mora perto de uma reserva no Bairro Maria Adélia, sempre conviveu com estas aparições de bichos, como micos, saracuras, lagartos, cobras, mas, recentemente, uma gambá procriou no quintal dele. “Como a gente cria galinha e frutas, ela resolveu ficar por ali para assegurar a alimentação de toda ninhada”. Em vídeo feito por ele, com naturalidade, brinca com a situação inusitada e diz que vai fazer “vender os bichos”, mas frisa: “Sempre aparece, mas foi a primeira vez que ela fez uma ninhada e é porque tá com fome”, acredita.
Também em Santa Luzia, no Bairro São Benedito, um porco espinho foi encontrado na casa de Josenberg Ferreira Amaral, técnico em farmácia. “Capturamos ele dentro de uma caixa e o soltamos numa mata lá perto, com muito cuidado para não ativar a defesa dele, que é soltar os espinhos”, conta.
De acordo com Érika Procopio, veterinária do Instituto Estadual de Florestas e responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama (CETAS) em Belo Horizonte, este fenômeno não é incomum e está ligado a dois fatores: a perda de habitat, como no caso de desmatamentos, mas também “associa-se à época seca, que tem menos alimentos. Daí, durante essa procura, muitas vezes, o animal encontra a cidade e, ao tentar sair, acaba entrando cada vez mais e pode acabar numa residência”, descreve a veterinária que, nesta semana atendeu à chegada de um tamanduá-bandeira resgatado pelo Corpo de Bombeiros no quintal de uma casa em Lagoa Santa, na região metropolitana.
Cuidados
Na quarta-feira, Erika e sua equipe receberam e cuidaram de uma tamanduá-bandeira de 35Kg e quase 2 metros de comprimento. O bicho surpreendeu moradores ao aparecer no quintal de uma casa no Bairro Palmital, em Lagoa Santa. Os bombeiros foram acionados e o animal, que chegou a receber atendimento veterinário no local, foi encaminhado para BH, cuidada e solta. A espécie está ameaçada de extinção no Brasil.
“É mais comum na Região Centro-Oeste. Pra gente foi uma surpresa. Era, claramente, um animal do mato, não de cativeiro, até mesmo pelas características das patas bem robustas”, acrescenta. A especialista, porém, recomenda às pessoas que tentem evitar aproximação, pois o tamanduá não ataca, mas se defende.
Na zona rural de Lavras, no Sul de Minas, uma onça suçuarana foi resgatada após ser capturada por um morador. O animal, que está iniciando a fase de caça a alimento, se aproximou de um galinheiro. O dono da propriedade montou uma armadilha. O felino foi internado no Hospital da Universidade de Lavras (UFLA) e deve ser solto nos próximos dias.
Fonte: Estado de Minas
Foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS