Colunistas
Brasil: o país do futebol
Esta semana, vou tratar um assunto que faz parte do cotidiano nacional. Se você é brasileiro, em algum momento, viveu o mundo do futebol nem que seja para torcer pela seleção em copa do mundo.
Pois bem, não vou falar sobre o Primeiro título de 1958 com o garoto prodígio, Pelé, ou Garrincha, o gênio das pernas tortas e pilar do título de 1962. Nem sobre a máquina que era nossa seleção de 1970, o título de 1994, após 24 anos de jejum com um Futebol para muitos pragmáticos e o pequeno Romário resolvendo, ou a seleção de 2002, com o grande Ronaldo dando a volta por cima.
Vou abordar a situação financeira dos clubes. Temos um exemplo próximo que é o Cruzeiro, time de história gigantesca, maior campeão da Copa do Brasil e o único time fora do eixo Rio-São Paulo a ser Campeão Brasileiro na era dos pontos corridos. Pois bem, as páginas heroicas imortais foram manchadas recentemente por escândalos, o grande Campeão sucumbiu pela corrupção e dívidas e mais dívidas, valores próximos de 1 bilhão de reais.
Mas essa situação envolve mais equipes no futebol brasileiro. O próprio rival do Cruzeiro, Atlético Mineiro, recentemente também se envolveu em polêmica por ser envolvido em uma dívida próxima de 1 bilhão de reais e muito se fala sobre a apresentação do seu balanço financeiro.
Outros exemplos emblemáticos são o Corinthians, Botafogo e Cruzeiro com valores de balanços de 2019 são hoje as equipes mais endividadas do país, segundo um levantamento da consultoria Sports Value, a qual deu números a esta fama e mostrou que a dívida dos clubes brasileiros, no geral, representa 39,8% de seu valor de mercado. Somados, os times devem R$ 10 bilhões – são R$ 3 bilhões apenas em impostos devidos ao governo federal.
Cruzeiro, Vasco e Botafogo são clubes com dívidas altíssimas, além de figurarem no top 5 de clubes mais endividados do país, estão hoje na série B; quero ressaltar que seja em clubes de futebol, seja em empresas. Dívidas não são necessariamente ruins, desde que não comprometam as atividades cotidianas, porém a questão é que disputar a Série B é sinônimo imediato de perda de receita – por ter menos visibilidade que a Série A. Ela restringe, por exemplo, os valores que os clubes conseguem negociar com patrocinadores.
Eu, particularmente, vejo o modelo jurídico de constituição e gestão baseado em entidades sem fins lucrativos, defasado, arcaico, fazendo pouco sentido quando falamos de clubes que faturam algumas centenas de milhões de reais. As dívidas se acumulam e simplesmente ninguém se responsabiliza por nada. Precisamos de uma mudança estrutural.
Na França, Inglaterra e Itália todas as equipes da Primeira e Segunda divisão são empresas, na Espanha e Alemanha aproximadamente 85% dos clubes são empresas já, no Brasil, 95% dos clubes são entidades sem fins lucrativos. Em 2019, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que libera os clubes se tornarem empresas; hoje, qualquer clube pode ser uma companhia.
Atualmente, em sua maioria, os clubes ainda são entidades sem fins lucrativos, historicamente, a gestão dos clubes associativos demonstra, em certos casos, a falta de capacidade para planejamento administrativo-institucional. Em médio e longo prazo, muitas vezes, o cerne da má gestão é devido a embates políticos internos, regras estatutárias, eleições periódicas e gasto excessivo de recursos pela gestão anterior.
Existe uma ligação pesada entre governo e os clubes de futebol no Brasil, são inúmeras dívidas perdoadas, isenção de impostos, parcelamentos e reparcelamentos, construção de estádios com dinheiro público e o pior: os times brasileiros estão no vermelho, mas por serem associações o termo ‘falência’ não existe e vai se arrastando essa bagunça.
Dos 36 clubes europeus da primeira divisão controlados por estrangeiros, 47% pertencem a investidores americanos ou chineses, existem equipes na Liga Inglesa que possuem até ações na Bolsa. Com isso a política tem seu papel reduzido ou até extinguido no elo com os clubes, os investidores do Clube ditam o dia a dia das atividades, além da Internacionalização da marca da empresa atrair mais profissionais para atuarem e desenvolverem a indústria, e terem maior facilidade em captar recursos, aumento da rentabilidade do negócio, ou seja, Lucro.
O RedBull Bragantino é um exemplo de clube-empresa que vem dando certo no Brasil: o clube hoje está na primeira divisão do futebol brasileiro, apresenta bons números financeiros e, a longo prazo, tem tudo para se consolidar.
Fugindo ao emaranhado de problemas de entidades sem fins lucrativos, a discussão sobre clubes empresas ou associação é bastante vasta, complexa e deve ser levada com muito cuidado, sobretudo, pela gama de disciplinas que as envolve, no mais, independente de qual modelo jurídico adotar, uma coisa é certa, sua gestão deve ser profissional e responsável.
Uma coisa é certa, o futebol precisa ser mais bem gerido, essas situações precisam ser observadas com bons olhos, está na hora de colocar no trilho antes que seja tarde demais.
A situação dos clubes está virando uma bola de neve e vai chegar um momento em que não terá mais como controlar, pois o futebol vai além de dentro de campo, e o único país pentacampeão do mundo precisa começar ir além das 4 linhas, vamos salvar o nosso futebol antes que seja tarde demais, e fazer o brasileiro sentir orgulho de ser realmente o país do futebol.