Um padre de Carlinda, cidade a cerca de 800 km de Cuiabá, no Mato Grosso, chamou atenção nas redes sociais após dizer que a menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio no Espírito Santo “gostava” dos abusos e “compactuava” com a violência. Após a repercussão das falas, ainda nesta quinta (20), o padre Ramiro José Perotto pediu desculpas e excluiu todas as redes sociais.
Os primeiros comentários de Ramiro foram feitos na terça-feira (18), um dia depois do procedimento de aborto a que a menina foi submetida. Na ocasião, ele compartilhou no Facebook o posicionamento do presidente da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Walmor Oliveira, reiterando a opinião de que tanto o estupro como o aborto legal seriam “crimes hediondos” e lamentáveis.
Nos comentários, vários seguidores questionaram o padre, que respondeu com ironia, alegando que a vítima “aceitou” os abusos. “Duvido uma menina ser abusada com 6 anos, por 4 anos, e não falar. Ela compactuou com tudo e agora é inocente. Gosta de d*** então assuma as consequências”, disse em uma das respostas. A outro usuário que criticava seu posicionamento, o padre disse: “Você acredita que a menina é inocente? Acredita em papai Noel também. 6 anos, por 4 anos, e não disse nada. Claro que estava gostando. Por favor””.
Pedido de desculpas
Depois da repercussão dos comentários, o padre voltou às redes sociais para pedir desculpas. Em uma mensagem publicada no Facebook, ele disse que assume a responsabilidade pelo que chamou de “palavras desagradáveis” e justificou a atitude: “Compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana”.
Ramiro também informou que excluiria seu perfil na rede social “por não querer mais ofender e ser ofendido”. “Precisamos ser fraterno. Sempre preguei isso. As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus”, disse. As contas do padre no Twitter e no Facebook, que foram alvo de muitas críticas nos últimos dois dias, já estão fora do ar.
Relembre o caso
A menina 10 anos engravidou após sofrer uma série de estupros praticados pelo próprio tio, em São Mateus, no Espírito Santo. Ela deu entrada em um hospital da cidade há cerca de dez dias com suspeita de gravidez, que foi confirmada por exames (relembre aqui).
Nas redes sociais, usuários de todo o país se mobilizam em uma campanha para que a vítima seja autorizada a interromper a gestação. De acordo com a PCES (Polícia Civil do Espírito Santo), a criança sofria abusos contínuos do tio desde os 6 anos de idade e não denunciou porque sofria ameaças. O exame Beta HCG indicou que ela já estava grávida há três meses quando chegou no hospital. A corporação concluiu o inquérito que investigava o caso e o homem foi indiciado pela prática dos crimes de ameaça e de estupro de vulnerável, ambos praticados de forma continuada.
O caso da menina rendeu muita polêmica nas redes sociais, quando um grupo de fundamentalistas religiosos se reunir na porta do CISAM (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros) – centro de referência no atendimento ao aborto legal, onde a menina foi atendida – para tentar impedir a realização do procedimento.
- Fonte: BHAZ