Colunistas
Em terra de Paulo e Joel, vale até Papai Noel
Historicamente a política de Nova Serrana se assemelha a um verdadeiro filme western, indo desde as inocentes – porém ácidas – discussões de ‘boteco copo sujo’ até aos mais duros e ardilosos enfrentamentos verbais e até mesmo judiciais, entre apoiadores e políticos, indo quase às vias de fato.
Folheando as páginas da história de Nova Serrana e revirando os baús da memória, dificilmente você irá distinguir com exatidão o mocinho do vilão, porque os personagens deste histórico bang bang da terra do calçado são muito peculiares, sobretudo aqueles que se digladiaram nos últimos 25 anos. Todos eles já tiveram seus dias de herói e de vilão. E no apurar dos fatos a conclusão que fica é de que essa cidade se contentou com muito pouco durante muito tempo.
O ponto aqui é a forma com que estes personagens exploram (ainda) a inocência do povo.
Na terra do calçado sobra botina pra todo lado quando o assunto é a política.
Neste atípico ano de 2020 muitos nomes estão rondando o assunto sobre as eleições municipais. Quando você pensa que Nova Serrana caminha para um futuro promissor, os fantasmas saem do armário e revelam o peso que ainda possuem no meio político, chegando a ser tenebroso constatar essa influência dos dinossauros do passado nos bastidores da política.
Porque sejam eles próprios concorrendo à disputa ao executivo municipal ou não, tanto faz.
Eles agem como maestros regentes de uma verdadeira horda de saudosistas, ou de alguns coitados que pleiteiam uma vaga no legislativo e tentam surfar sobre a putrefata imagem destes históricos heróis/vilões. O saudosismo tem cada vez menos poder nas urnas; o puxa saquismo parece ainda ter muito, infelizmente.
Os fantasmas agem subterraneamente através de seus capangas. Relembre as últimas composições da câmara municipal nos mandatos anteriores e o desenrolar da trama. Que política arcaica!
Esse cenário western foi até usado como sátira em forma de slogan de campanha usado pelo candidato a prefeito Ubiratan Gazel, nas eleições de 2004:
“Nem Paulo e nem Joel. Vote Ubiratan Gazel.”
Há não muito tempo atrás os políticos se preocupavam em ganhar o coração das grandes famílias tradicionais de Nova Serrana, o que refletia até na escolha dos vices. A cidade cresceu muito e a velha burguesia foi perdendo seu peso na contagem dos votos. Não se conta mais votos por sobrenome, como se conta cabeças de boi num pasto, a política mudou.
Um dos reflexos dessa mudança é o anseio dos políticos em ganharem o apoio das grandes igrejas evangélicas. O método usado é simples: assim que se inicia o período eleitoral vão ao máximo de igrejas que puderem, quatro, talvez até cinco na mesma noite de domingo.
Melhor ainda se o pastor fizer uma menção ao político lá no alto do púlpito. Se o pastor ceder o microfone então… o político explode de alegria. E se o político for pastor então, vish, aí a vitória nas urnas tá quase certa.
Porque em terra de Paulo e Joel, vale até Papai Noel.
E se for um Papai Noel da Farmácia ou da Ambulância, um Papai Noel Mecânico ou das Festas Juninas melhor ainda. Desde que seja um Papai Noel que encha seu saco com muito pão e circo, caindo assim nas graças de um povo sofrido e que em sua maioria não sabe votar.
Porém caro leitor lembre-se da icônica frase da ex-presidente Dilma:
“Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta,
que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante.”
Pois saiba que por trás de cada Papai Noel em Nova Serrana existe uma figura oculta, um pezinho virado para o Papai Paulo ou o Papai Joel.
E quando você menos espera surgem vídeos, rumores, boatos se espalham pela cidade dizendo que os fantasmas do passado estão a disposição de apoiarem tal candidato nas eleições, o que chega ser tragicômico.
O que estes têm em mente? Eles fazem um desfavor a seus aliados em os apoiarem. Se quiserem os ajudar não os apoiem!
As eleições estão chegando, muito cuidado! Porque não há como separar os mocinhos dos bandidos. Eles estão por aí mexendo seus pauzinhos e fazendo seus conchavos.
O que querem com isso; qual será o mistério por trás de tanto palpite nos bastidores; por trás da relevância de suas opiniões em votações na câmara; nas pautas sobre o futuro da cidade; o O que será que ninguém sabe?
E logo mais muitos papais noéis estarão estacionando seus trenós na igreja que você frequenta, na tela do seu celular pelo whatsapp, ou jogando panfleto na porta da sua casa. Abre o olho Nova Serrana. Essa terra merece mais do que isso.
- Osvaldo Campos Mendonça de Évora é jornalista e escritor, com experiência no jornalismo impresso, no rádio e também em publicidade e propaganda. É um democrata que defende o meio ambiente e a sustentabilidade, que valoriza o diálogo entre os diferentes lados políticos e que ressalta a importância da educação e da ciência.