Colunistas
Dados valem mais que petróleo
Sou de um tempo em que o CPF (Cadastro de Pessoa Física) era um documento sacro. Guardado sob sigilo e utilizado, apenas, em situações muito específicas. Os onze números desse documento eram a vida da gente, intransferíveis, e não podiam ser compartilhados, sob pena de ser lesado de alguma forma.
Nos dias atuais, está tudo muito mudado. Para comprar um remédio para dor de cabeça com um preço melhor, pedem o CPF para dar o tal desconto. Pros diabos! Porque querem um documento tão pessoal para me dar uns dois reais de desconto? O que irão fazer com ele a seguir?
Já esbravejei com muito atendente de farmácia acerca desse tipo de procedimento, e quase sempre optei por pagar mais caro em um medicamento do que repassar o CPF. Sei lá, considero isso como uma invasão de privacidade. Só que o problema é muito maior.
Num mundo cada vez mais digital e online o tempo todo, com mercados cada vez mais agressivos, quem detém informações sobre as pessoas tem tudo. Nossos dados são constantemente negociados por empresas que os vendem para outras empresas que nos querem vender algo. De produtos, serviços e até mesmo comportamento.
No mundo virtual isso é muito mais intenso. Nas redes sociais tudo que acessamos, compartilhamos e curtimos gera pegadas digitais. Essas impressões vão definindo nossas preferências e num passe de mágica nos deparamos com algo que não conhecíamos, mas começamos a gostar. Alguém escolheu por nós ou nos conduziu àquela escolha.
Parece bruxaria, mas é tecnologia. São os tais algoritmos atuando. Em tempos de isolamento social milhares de pessoas estão conectadas. Consumindo e oferecendo seus dados pessoais, preferências e comportamentos que abastecem as empresas de tecnologia que vão negociar essas informações.
Quando vamos acessar um serviço, tem o tal “termo de autorização”. O problema é que quase ninguém lê, e se lê e não concorda não consegue acessar o serviço na rede. Ou seja, não se tem opção a não se concordar e oferecer seus dados. É como o exemplo da farmácia acima: quer o desconto? dê seu CPF.
O mundo digital ainda é um terreno sem regras muito bem definidas. Penso que como no caso do CPF, ninguém deveria obrigá-lo a apresentar sua privacidade. Você teria que ter uma opção de acessar um serviço qualquer dentro da rede com a opção de não deixar pegada digital ou que no mínimo você não autoriza o acesso e manipulação de seus dados.
Duas produções ilustram bem o tema tratado nesse artigo, os quais gostaria de compartilhar. A primeira delas é o filme “O Ciclo”, e a segunda é o documentário “Privacidade Hackeada”. Não vou dar spoiler, só dizer que vale muito assistir.
Mais do que estarmos sendo vigiados, estamos sendo negociados. Isso tem preço e não é barato.
- RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação.
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