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Cresce em até 180% venda de remédio sem eficácia comprovada para covid-19; veja perigos

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A pandemia de covid-19 disparou a venda de medicamentos sem eficácia comprovada, com aumentos de até 180% em alguns produtos. Entre eles estão remédios à base de hidroxicloroquina, substância propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro mesmo sem estudos sólidos e com efeitos colaterais perigosos, como parada cardíaca.

A constatação está em pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) e obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo. O estudo comparou a quantidade de comprimidos e cápsulas comercializados no país no primeiro trimestre de 2019 com a do mesmo período deste ano. As seis substâncias pesquisadas foram aquelas que, de alguma forma, apareceram em debates públicos.

Entre janeiro e março de 2019 foram vendidas 231,5 mil unidades de medicamentos com hidroxicloroquina, ante 388,8 mil no mesmo período deste ano, um aumento de 67,93%. O farmacêutico Gerson Antônio Pianetti, doutor em Controle de Qualidade de Medicamentos, avalia que a maneira como Bolsonaro se referia ao remédio pode ter afetado as vendas. “Está tendo certa corrida inesperada e estamos tentando fazer com que o farmacêutico seja o elemento que não deixe isso acontecer. Mas realmente o aumento do consumo de medicamentos se deu a partir de inúmeras falas de pessoas com confiabilidade na população, como alguns médicos, empresários e, principalmente, o presidente.”

Em uma reunião com líderes do G-20, em março, Bolsonaro chegou a apresentar uma caixa de Reuquinol, medicamento que tem sulfato de hidroxicloroquina na fórmula. Inicialmente, a substância foi autorizada para pacientes com covid-19 internados em estado de moderado e grave. Mais tarde, o Conselho Federal de Medicina liberou a prescrição para pacientes com sintomas leves, mas com a ressalva de que essa decisão “não seguiu a ciência”, e foi tomada apenas para encerrar a polarização criada em torno do medicamento.

Só em 20 de março a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu que remédios com hidroxicloroquina só poderiam ser vendidos mediante receita especial.

Outros

Segundo o estudo do CFF, o maior aumento em vendas foi registrado pelo ácido ascórbico, a vitamina C. Durante a pandemia, circularam informações sem respaldo científico sobre a capacidade de a substância prevenir o contágio pelo novo coronavírus. O total de comprimidos e cápsulas vendidos saltou de 9,3 milhões para 26,1 milhões de um trimestre a outro, crescimento de 180%.

Também foi identificado aumento de demanda por remédios com o colecalciferol como princípio ativo, a chamada vitamina D. Esse elemento também apareceu nas redes sociais como alternativa de prevenção, da mesma forma sem respaldo científico. O aumento nas vendas da substância foi de 35,5%.

O único remédio que teve a venda arrefecida no período foi o ibuprofeno, com queda de 2,6%. O medicamento esteve no centro de um debate mundial sobre a reação dele contra o novo coronavírus. No início, um diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que esse anti-inflamatório não fosse usado em casos de covid-19, por suspeitas de agravar a doença. Dois dias depois, a mesma entidade informou não haver restrições. No entanto, entidades médicas brasileiras mantiveram as ressalvas ao medicamento.

Campanha

Uma das conclusões do estudo encomendado pelo CFF é a de que a crise sanitária expôs a influência do medo da população e o hábito da automedicação. Farmacêuticos alertam que todos os remédios oferecem riscos, mesmo os que não dependem de prescrição. “A nossa recomendação é de que os farmacêuticos continuem observando as recomendações da Anvisa e as boas práticas farmacêuticas e orientem os usuários, pois a desinformação é um inimigo tão poderoso quanto o novo coronavírus”, afirmou o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.

Riscos

A depender da dose, o paracetamol pode causar hepatite tóxica. A dipirona, risco de choque anafilático. O ibuprofeno, tonturas e visão turva. O uso inadequado de vitamina C, diarreias, cólicas, dor abdominal e dor de cabeça. O uso indiscriminado da D, pode fazer com que o cálcio se deposite nos rins e provoque lesões permanentes. Entre os efeitos colaterais da hidroxicloroquina estão arritmia e parada cardíaca.

  • Fonte: Itatiaia

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