Belo Horizonte
Homem que esfaqueou mulher no meio da rua tinha 47 ocorrências policiais por violência doméstica em BH

Kate Emanuela da Costa, de 37 anos, foi morta depois de passar por todos os estágios da violência doméstica. O ex-companheiro dela, de 30 anos, autor confesso do crime que ceifou a vida da diarista em 10 de dezembro de 2024 tinha 47 registros policiais de crimes do tipo. Ele chegou a ser preso e tinha uma medida protetiva para não se aproximar da vítima, mas nada disso o impediu de acabar com a vida dela e destruir a família de oito filhos que ela deixou.
O inquérito que apurou as circunstâncias do crime e indiciou o homem por feminicídio, tentativa de homicídio e estupro de vulnerável foi apresentado nesta segunda-feira (10) pela Polícia Civil de Minas Gerais.
“Ele é uma pessoa cruel, má, temido por vizinhos e conhecidos, usa de força física e tortura psicológica para viver. Quando é acusado de alguma coisa, ainda faz ferimentos em si mesmo, com facas e alicates para imputar a violência à vitima”, resumiu a delegada Iara França, responsável pelas investigações. O homem está preso desde o dia dos fatos, e além dos crimes contra vítima, também pode ser culpabilizado por estuprar duas das quatro filhas, e por maus-tratos a animais, os quais ele foi denunciado 51 vezes.
Histórico de violência
O autor e a vítima estavam juntos há 10 anos, e neste tempo, ela pediu socorro e fez inúmeras denúncias sobre a violência que ela, os filhos e os animais sofriam nas mãos do algoz. Ele, por outro lado, não se intimidou e continuou a agredi-los. “Ele tinha o hábito de invadir a casa dela, sobretudo na madrugada, quando ela não tinha muito como reagir e lá, cometia os crimes. No dia do crime, por exemplo, após consumir bebidas alcoólicas e drogas durante a madrugada, ele foi até a casa da mulher e invadiu o local”, disse.
Durante a manhã, Kate preparava os filhos para irem à escola à tarde, mas ele disse que ninguém sairia de casa. A vítima ignorou a ordem do autor, que pegou um facão e começou a agredi-la. “Ela conseguiu fugir de casa, mas ele foi atrás e cometeu o ataque no meio da rua, na frente de todos. Depois, ele retornou à casa dele, e de lá ouviu que a mulher ainda estava viva, que o Samu havia sido acionado. Então, ele foi até a vítima novamente e a atacou a morte”, completa.
A Polícia Militar, que foi acionada, prendeu o homem em flagrante. Vídeos de testemunhas e de câmeras de segurança mostram o momento que ele mata a mulher. Houve tentativa de vizinhos em impedi-lo, mas tudo em vão. “As pessoas tentaram pará-lo, com pedras e paus, mas todo mundo teme ele, sabe que ele é perigoso”, afirma. Um dos filhos da mulher, de 13 anos, tentou impedir o ataque, e foi atingido no braço.
Outros crimes
Durante as investigações do inquérito concluído em 28 de fevereiro deste ano, a Polícia Civil ainda identificou que as crianças também foram vítimas do homem. “Duas meninas foram estupradas por ele. As professoras notaram o comportamento estranho delas, usando blusas de frio, uma andando com as pernas abertas e com dificuldades para assentar. Ele (o autor), sempre dizia que iria estuprar todas as filhas”, acrescentou.
O homem também tinha o costume de proibir a ex-companheira de alimentar os filhos. Ele a obrigava a cozinhar só para ele. “Os filhos estavam magros e eram crianças tristes. O local era insalubre, sujo, impróprio, com diversos animais mortos, que ele matava, bebia o sangue e obrigava a deixar às vistas de todos”, disse a delegada.
A Polícia Civil pediu um laudo psicológico do homem por acreditar que ele possui alguma psicopatia.
Família pede ajuda
O filho mais velho de Kate, Willian Victor, de 19 anos, se tornou o responsável legal pelos irmãos mais novos. Sem estrutura para cuidar de todos, ele pede ajuda para conseguirem um lar, se manterem saudáveis e, principalmente, unidos.
“Eles sentem falta da minha mãe, pedem por ela, mas aos poucos vão entendendo o que aconteceu. A gente tem recebido ajuda da comunidade e estamos dando conta, o mais importante, que é o desejo de todos, é ficarmos juntos”, afirmou.
A advogada que auxilia a família, Isabel Araújo, acusa o Estado de negligência. “Ela foi tirada da família injustamente porque não olharam para ela, não cuidaram dela, mesmo ela tendo pedido por ajuda. O estado deve a essa família uma reparação”, disse.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais foi questionado sobre a soltura do homem, mas ainda não retorno.