Educação
MPMG e Secretaria de Estado da Educação iniciam projeto de valorização das escolas
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais lançaram na noite desta terça-feira, 3 de dezembro, na Escola Estadual Professor Morais, no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, um projeto para valorizar as escolas da rede estadual de ensino de Minas Gerais. Trata-se do Moradores | Educação – escolas, memórias e pertencimento, um movimento cultural pela valorização das escolas como território de pertencimento para toda a comunidade escolar e lugar de memória para pessoas que passaram por elas ou vivem no seu entorno.
Até meados de 2026, uma “tenda de ouvir histórias” será levada para oito instituições de ensino da rede pública estadual, em diferentes cidades, abrangendo todas as regiões de Minas Gerais: Belo Horizonte, Governador Valadares, Januária, Juiz de Fora, Poços de Caldas, São João das Missões, Teófilo Otoni e Uberaba.
Na tenda, as pessoas são chamadas a contar, de forma espontânea, suas histórias de ligação com a escola e com o bairro. Nesse momento, são feitas fotografias e vídeos que, junto com os relatos, são transformados em um filme documentário, um varal fotográfico, um catálogo de histórias e uma exposição de imagens em grandes painéis que ocupam locais públicos em cada cidade.
O Moradores | Educação – escolas, memórias e pertencimento é realizado pelo Centro de Intercâmbio e Referência Cultural (Circ). Foi idealizado pela Nitro Histórias Visuais com o apoio do MPMG, por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Educação (CAO-Educ), do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo (Caoma) e do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Econômica e Tributária (Caoet). O projeto conta com a parceria da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. É viabilizado, via Plataforma Semente, com recursos obtidos pelo MPMG com medidas compensatórias.
Primeira escola
A Escola Estadual Professor Morais foi a primeira instituição de ensino a fazer parte do projeto. Tudo começou no mês de outubro, quando foi realizada uma oficina cultural com os estudantes da instituição. Nessas oficinas, foram abordadas técnicas básicas de fotografia, filmagem, registro e documentação de histórias.
De acordo com os realizadores, “os jovens foram instigados a pensar sobre o lugar que a escola ocupará em suas histórias e a se questionar sobre o que é memória e como eles irão construir as suas, além de serem estimulados a transformar as suas relações com o território da escola em sentimento de pertencimento”.
Depois da oficina, a equipe de fotógrafos, videomakers e jornalistas montou, dentro da escola, a tenda branca com uma câmera e um microfone. Professores, alunos e ex-alunos, funcionários e moradores da vizinhança foram chamados para contarem suas histórias de afetividade com a instituição.
Conforme os realizadores do projeto, mais de 150 pessoas participaram. O material transformou-se em um filme documentário intitulado Moradores | Educação – Escola Estadual Professor Morais, exibido no lançamento, na noite desta terça-feira, 3 de dezembro.
Depoimentos
A escola é “a porta do mundo”, “uma fábrica de sonhos”, um lugar onde se aprende a “respeitar as diferenças” são algumas das frases de depoimentos do documentário, que emocionou os presentes. O filme teve a participação de alguns personagens ícones da instituição, como a ex-aluna e cantora Aline Calixto; uma ex-servente, atualmente com 103 anos, e suas filhas que estudaram no local – uma delas inclusive que se tornou professora; a merendeira Lígia, que ainda é chamada de “tia” pelos ex-estudantes nas ruas, até aqueles já com barbas brancas, como ela mesma conta. No filme, alunos e ex-alunos também apresentaram seus talentos: recitaram suas poesias, cantaram seus raps, mostraram sua arte. E, principalmente, expressaram o amor que sentem por aquele lugar que ainda faz ou já fez parte de suas vidas.
Depois do documentário, houve uma apresentação do Bloco de Carnaval Vou Ali e Volto, formado pelos moradores do bairro. Os presentes também conferiram o varal fotográfico com imagens das pessoas que contaram suas histórias na tenda. As fotos puderam ser levadas para casa como uma recordação.
Na Praça Tejó, ao lado da instituição de ensino, grandes painéis com imagens dos participantes compõem uma exposição homônima. Houve ainda a distribuição de um catálogo impresso sobre a exposição com as histórias dos personagens.
Projeto
De acordo com a promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Educação do MPMG (CAO-Educ), Ana Carolina Zambom Pinto Coelho, o projeto foi concebido e discutido em conjunto com todos os parceiros. Ela explicou que o MPMG fez intervenção, com diálogo e reuniões, direcionando os trabalhos para se ter uma amostragem fidedigna do cenário estadual de Educação em Minas. “Pensamos na representatividade de escolas quilombolas, indígenas, instituições grandes e também as menores, entre outras”, relatou.
Ela contou que o projeto surgiu em um momento crítico de violência escolar. “A escola estava sendo atacada e para se proteger dessa violência, era necessário cuidar do clima”, esclareceu, lembrando também do descompasso entre a escola e o mundo digitalizado em que os estudantes vivem, o que dificulta o interesse dos estudantes. “O projeto se mostrou fantástico. Os alunos se envolveram, houve engajamento da comunidade, da direção. O retorno foi imediato e a história da escola foi resgatada”, comentou.
Na avaliação da promotora de Justiça, a ideia de escola vai além dos livros e do espaço físico. “É um local de construção de sonhos, é onde se aprende a viver, onde as crianças se constroem como seres humanos, é o que dá sentido à vida. Cuidar da escola é cuidar do patrimônio humano”, disse.
Para o secretário de Estado da Educação, Igor de Alvarenga, o projeto resgata a ideia de pertencimento nas escolas. “São diversos atores que participam da formação e de uma transformação do ambiente escolar. Resgatar essa história faz com que os atuais estudantes valorizem ainda mais tudo o que foi feito na instituição”, disse. Ele ainda afirmou que a ideia de pertencimento também melhora o clima escolar, com convívio mais prazeroso e cuidados ao ambiente, o que gera mais aprendizagem e permite que os estudantes se sintam mais à vontade para permanecer na instituição, evitando a evasão escolar.
O jornalista Gustavo Nelasco, um dos autores do projeto, destacou a importância de olhar para a escola como um local de pertencimento e de valorizar professores e todos que trabalham nas instituições de ensino.
A diretora Michele Franciscani ressaltou o envolvimento dos estudantes e disse que o Moradores | Educação foi uma inspiração e se tornou, pra muitos, um projeto de vida. “Ficamos com receio de participar, pois já era outubro, fim de ano, aquela correria. Mas, fomos todos contaminados pela beleza do projeto”, confidenciou. A vice-diretora Sandra Regina Dantas Flontino disse que a escola ficou honrada por ser a primeira a participar e agradeceu pela oportunidade. “Foi lindo reconstruir e ressignificar as memórias da nossa escola”, comentou.
Fonte: MPMG
O Moradores | Educação é um braço do Projeto Moradores – A Humanidade do Patrimônio.
Para assistir ao documentário Moradores | Educação – Escola Estadual Professor Morais, clique aqui.
Veja as imagens da cerimônia de lançamento do projeto Moradores | Educação – escolas, memórias e pertencimento.
Confira abaixo algumas fotos da execução do projeto e da exposição da Praça Tejó:
Fotos do lançamento: Camila Inácio Soares/MPMG
Fotos da execução do projeto e da exposição: Marcos Desimoni/Nitro