Conecte-se Conosco

Colunistas

A menina de Brasília

Publicado

em

Fato político inabitual havido na última semana, dando conta de que Jair Bolsonaro foi “esnobado” por uma criança, ganhou as mídias, sempre elas, não tanto pela relevância, mas pelo inusitado.

A notícia viralizou na internet, a partir do fragmento de um vídeo publicado pelo próprio presidente no Twitter. A recusa teria acontecido numa cerimônia com crianças da rede pública do Distrito Federal na quinta-feira, dia 18, e pela interpretação de alguns, ganhou ares e contornos de resistência ao atual mandatário da Nação.

O ato da menina de Brasília ganhou precedente histórico e logo propalou-se nas redes, turbinadas pela leitura labial de outros garotos que teriam reclamado do governo ao próprio presidente e dando margem para uma multidão ver ali, exemplos de coragem dos que não se curvam ao poder.

Não faltaram comparações dessa cena com o acontecido no fim da ditadura, quando à época, uma criança de sete anos desdenhou do presidente João Batista Figueiredo durante um evento cívico-militar em Belo Horizonte, em 1979, como prenúncio da queda de prestígio de um regime em ruína.

Feito uma leitura pormenorizada do fato, o que vimos, no entanto, foi uma continuidade de equívocos, oriundos da análise de cada vivente que povoa a internet.

O primeiro e mais grave, é o fato de uma criança ser exposta dessa forma em um contexto de alta polarização e hostilidade política que vivenciamos atualmente na terra Brasilis. Havemos de pensar o que ela poderia ouvir quando voltasse à escola, por quais aborrecimentos ela passaria, e também pressupor o quão seus pais poderiam sofrer; indo até, quiçá retaliações, por parte de um eleitorado que idolatra o chefe da Nação.

A Posteriori, de acordo com o site “Metrópoles”, que entrevistou a família da criança, a estudante só balançou a cabeça diante de Bolsonaro após o presidente perguntar à turma quem ali era palmeirense. A garota tem predileção pelo Flamengo. Em tempos de fake news e interpretações pela metade, das quais Bolsonaro, vale ressaltar, é adepto notório, o dano estava feito. “Fico muito triste porque as pessoas estão falando mal de mim, que sou mal-educada”, queixou-se a estudante de oito anos à reportagem.

Ainda que a menina tivesse se negado a estender a mão para cumprimentar o presidente, a ninguém é dado o direito de usar sua imagem para expressar e confirmar uma própria opinião, como justificação para suas particulares manifestações políticas, invoquemos o bom senso, seja por uma questão de segurança, seja pela incapacidade de discernimento dos pequenos, para não sermos ludibriados pela sede de validação do nosso pensar.

O alerta sobre a exposição indevida deveria valer também para quem usa uma criança como plataforma eleitoral, afim de demonstrar prestígio e benignidade, entre beijos e abraços inaturais; uma marca de políticos de todas as colorações desde os primórdios das corridas eleitorais. Nisso Bolsonaro não é pioneiro, mas em nada se distingue dos seus antecessores.

Se o acontecido é uma sucessão de erros, o é também didático, narra o nosso embrutecimento, numa época de análises, acusações, julgamentos e condenações precipitadas a partir de fragmentos, e não de fatos. Reflitamos sobre.

Abençoada semana

Graça e Paz

Continue Lendo
Clique Para Comentar

Deixe uma Resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicidade
Publicidade

Política

Publicidade