Política
Filiação de jovens recua quase 80% em Minas Gerais de 2018 a 2022
No Brasil, queda foi de aproximadamente 40% na faixa etária dos 16 aos 24 anos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral
O número de filiações partidárias de adolescentes e jovens na faixa dos 16 aos 24 anos despencou 78,5% em Minas entre as eleições gerais de 2018 e 2022, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com informações de O Tempo.
No Brasil, também houve uma queda significativa, de 60,4%, considerando o mesmo período e intervalo etário. No Estado, a quantidade de eleitores vinculados a agremiações partidárias nessa idade era de 24.731 em 2018, mas foi reduzido para 13.858 em 2022. No país, o número recuou de 305.447 para 190.411 no ano passado.
Além disso, as estatísticas demonstram algumas contradições. A primeira relacionada ao aumento significativo da participação dos jovens nas eleições de 2022. Mais de 2,1 milhões de eleitores com 16 e 17 anos estavam aptos a votar e, aproximadamente, 1,7 milhão foram às urnas. Em 2018, essa parcela do eleitorado – para a qual o voto é facultativo – era de 1,4 milhão de jovens. Naquele ano, o comparecimento foi de cerca de 1,1 milhão.
Outro ponto de contraste diz respeito ao fato de que, mesmo com a redução numérica na participação de jovens na política institucional, há alguns deles bastante engajados e com atuação destacada em cargos eletivos.
Para o professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e integrante do Observatório da Juventude da UFMG, Sebastião Everton de Oliveira, é crucial destacar que o atual processo de participação política resulta de mutações sociais e do conflito das novas gerações com instituições representativas e processos institucionalizados.
“A participação ou incidência política dos jovens deve ser ampliada para além dos paradigmas clássicos. Nesse cenário, observa-se uma adesão maior em direção a associativismos e ações diretas, especialmente ligadas aos campos da arte e da cultura. Essa busca reflete a aspiração por flexibilidade, ação direta e pelo estabelecimento de estruturas políticas menos centralizadas e autoritárias”, avalia o pesquisador.
O que poderia justificar as diferenças, na percepção dele, é que, apesar da procura por alternativas, não é possível desvincular totalmente a prática política de instituições tradicionais, que têm “papel fundamental na garantia da estabilidade social”.
Já o Grupo Gestor do Fórum das Juventudes da Grande BH argumenta que a explicação é multifatorial, mas destaca o isolamento decorrente da pandemia de Covid-19 como um dos motivos principais, por causa das dificuldades de interação social. “Isso pode ter afetado a disponibilidade para envolvimento na política formal, que demanda contato com o público e uma série de atividades presenciais. Além do mais, muitas pessoas e famílias ainda estão se reerguendo financeiramente, o que também impacta o envolvimento em atividades que, muitas vezes, não são remuneradas”, pontuou o coletivo.
Outro aspecto sublinhado pelo fórum é a própria polarização político-eleitoral, tendo em vista que “muitas pessoas, inclusive jovens, não se identificam com essa radicalidade tão binária e gostariam de opções mais amenas, com menos hostilidade e rivalidade”.
Total de inscritos cai 5,3% no Estado
Considerando todas as idades, entre 2018 e 2022 o número de filiados a partidos políticos diminuiu 0,7% no país e 5,3% em Minas Gerais. Mesmo nesse cenário, algumas siglas se destacam no levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como as que mais reúnem correligionários.
No Brasil, o MDB é a única legenda que conta com mais de 2 milhões de associados, seguida por PT, PSDB, PP, PDT, União Brasil e PTB – todos elas com pelo menos 1 milhão de filiados.
Em Minas, o MDB também lidera o ranking, com 189.762 filiados, seguido pelo PT, com 165.547, e pelo PSDB, com 141.124.
Para o cientista político da ESPM Paulo Ramirez, o perfil dos filiados e o destaque do MDB na conjuntura nacional não são coincidências nem causam surpresa.
Ele acredita que desde a formação, durante a ditadura, e principalmente no período de redemocratização, o partido se concentrou em alcançar regiões aonde outras siglas não chegam por estarem focadas nos grandes centros.
“Nas regiões mais distantes o MDB é, muitas vezes, a alternativa que resta, literalmente. Essas regiões têm mais déficits sociais, assim como, por serem tradicionais, acabam tendo maior quantidade de indivíduos com mais idade. Esse é o fundamento da emergência do centrão no Brasil, diferentemente de partidos como o PT e o PSDB”, analisou o cientista político.
Homens são maioria entre registrados
O perfil sociodemográfico dos filiados também pode ser bem delineado pelos números. No Brasil, a maioria deles é homem (54% das filiações), com idade entre 45 e 59 anos (34,9% das filiações) e possui ensino fundamental incompleto (26,3% das filiações).
Em Minas, o desenho é bastante parecido: são homens a maioria (57,5% das filiações), também com idade entre 45 e 59 anos (35,2% das filiações) e ensino fundamental incompleto (31,9% das filiações).